A última edição do projeto “Grandes Debates” da Câmara de Vereadores de São Leopoldo foi ao ar na última terça-feira, dia 30. Apresentado pela presidenta, Ana Affonso (PT), o programa contou com a participação da diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, e também dos vereadores da bancada do PT, Nadir Jesus e Tiago Silveira.
O bate-papo trouxe uma reflexão sobre a campanha “Vidas Negras Importam” e marcou o fim do mês da consciência negra, com relatos daqueles que sofrem diariamente com o racismo estrutural na sociedade.
“Quando a gente fala que vidas negras importam não estamos falando só da boca para fora, para gente é um lema de vida. Para gente é entender que por sermos pessoas e mulheres negras intensas, a gente não tem outra escolha a não ser levantar nosso punho e gritar que vidas negras importam. A gente quer ser protagonistas das nossas histórias, das nossas conquistas, vivas”, enfatizou Anielle Franco.
A militante relembra como surgiu o Instituto Marielle, que busca inspirar, conectar e potencializar mulheres negras por um mundo mais justo e igualitário. “Quando infelizmente assassinaram a minha irmã em 2018, eu me vi em uma posição na qual eu precisava, não só romper com o silenciamento, mas dar voz para aquelas pessoas que não eram ouvidas”, destacou.
Ana salientou que é preciso lutar diariamente contra as violências ainda cometidas com as pessoas negras. “Embora a gente tenha uma concepção de que o debate contra o racismo não é um compromisso apenas da população negra, nós temos um compromisso enquanto sociedade de construir um mundo, um país, baseado em outros pilares”, pontou a vereadora.
Neste sentido, a vereadora Nadir Jesus incluiu na discussão o fato de que em 175 anos de Câmara, ela tornou-se a primeira mulher negra a ocupar um lugar entre os parlamentares. “Por que demorou tanto tempo para uma mulher negra ocupar uma cadeira na Casa do Povo sendo que esta luta do nosso povo é anterior a 1824 com a chegada dos imigrantes? Nós queremos ocupar espaços que sempre nos foram negados, nós queremos ocupar espaços de direito e não de esmola, nós queremos ocupar espaços para a reparação histórica pelos quase 400 anos de escravidão neste país”, manifestou.
Já o vereador Tiago Silveira ressaltou que, devido ao racismo estrutural, é comum a sociedade acreditar que ela concede espaço para que negros ocupem posições de representação. “As pessoas não negras frequentemente dizem que nós estarmos aqui é uma concessão da sociedade branca e eu quero dizer que não é assim, porque eu trabalhei muito para chegar até aqui. Estar ocupando essa cadeira no Legislativo é fruto de toda a população negra que nós temos na cidade e, por mais que nem toda a população negra tenha votado em nós, toda a minha vida eu passei por essas pessoas e o que eu sou hoje é resultado do que essas pessoas tiveram disponibilidade para me ensinar”, disse.
Por fim, Anielle Franco afirmou que ser parte do movimento negro é carregar memórias vivas e um apanhado de resistência e ressignificação da dor e dos traumas dessa população. “Dizer “Vidas Negras Importam” começa daqui, começa daí, começa nas escolas, nos coletivos, começa na resistência do povo favelado, do povo LGBTQIA+, mas acima de tudo, começa e termina por nos mantermos vivas”, salientou. O debate está disponível na íntegra nos canais oficiais da Câmara no YouTube e no Facebook para quem quiser conferir.
Texto: Patrícia Wisnieski - Estagiária de Jornalismo/CMSL
Supervisão: Eduarda Rocha/CMSL
Fotos: Bruno Pereira/CMSL